Certeza

Artigo Publicado em abril/2011

Incrível como precisamos sofrer para aprender viver. Sabemos que a cada dia os erros são ensinamentos ao homem daquilo que deve evitar, do quanto a natureza humana é imperfeita e como somos insistentes e resistentes às mudanças.
A catástrofe do Japão nos mostra que a Natureza é a mãe suprema e quando não sabemos lidar com ela sentimos sua força e poder.
Sempre fui uma pessoa apaixonada pela cultura oriental. Aquele povo me ensina grandes lições de vida, conduta, valores,  ética, disciplina e perseverança. No entanto, a  lição que os japoneses estão dando ao mundo neste momento é algo indescritível.
Como uma população que vê desaparecer milhares de pessoas diante de uma tragédia é capaz de tanto serenidade, energia, união, organização e atitude?
Em nenhuma reportagem que a mídia nos apresenta encontramos desespero, saques, correrias …. Só vemos pessoas trabalhando, ajudando, reconstruindo e limpando tudo, como se amanhã fosse um novo dia. Uma estrada destruída com o tremor da terra  fica completamente nova e transitável em 6 dias; a falta de água é resolvida com multirões de comerciantes enviando o produto, sem nenhum custo, engarrafado, estéril e pronto para ser usado;  comunidades inteiras de pessoas se colocam na rua para limpar, lavar e tirar destroços (até humanos) sem ser convocada por nenhum governo; enterram os mortos de maneira comunitária, mas não se esquecem de transformar aquele momento num cerimonial de respeito aos desconhecidos….e muitos outros exemplos estão sendo mostrados ao mundo, a cada dia.
Essa lição precisa ficar registrada na História da Humanidade. O povo japonês vive em grupo, não são ilhas isoladas, consumistas e egoístas. São felizes se todos ao redor são felizes e se ajudam sem ninguém nada pedir. Possuem uma espiritualidade em falta no mundo moderno, um sentimento de desapego, mas de respeito, atitudes equilibradas emocionalmente, uma disciplina metódica mas que traz o resultado esperado e acima de tudo possuem esperança e certeza que estão fazendo o bem e o que deve ser feito.
Hoje tenho certeza que valeu a pena admirá-los, seguir seus ensinamentos, tê-los como exemplo de pessoas que valorizam seus ancestrais, não porque são mais velhos, mas porque os idosos são nosso passado, sem eles não existiríamos. Jamais esquecerei um país onde não  se precisa de leis para dar lugar ao idoso, suas escolas preparam crianças para a morte, porque ela é inevitável, mas na luta contra sua  chegada elas sabem como agir na preservação da vida. Um povo que produz alimentos saudáveis porque seus agricultores os semeiam com alegria, agradecendo a Deus o sol, o dia e o trabalho.  Uma cultura que  ao doar, agradece a quem recebe, pois vê no voluntariado uma oportunidade de ser melhor pessoa e um país onde seu chefe maior (o imperador) é proibido de frequentar qualquer culto religioso, pois com isso pode “influenciar” seu povo na sua opção religiosa, bem diferente do Brasil, onde um presidente faz campanha pessoal a candidata de sua preferência.
Tenho CERTEZA absoluta que só pessoas como eles conseguiriam reconstruir um país depois de uma bomba atómica e esse exemplo nos faz sentir quão insignificantes nós ocidentais somos em nossos pequenos grandes problemas, para os quais reclamamos que não temos soluções.
Falta aos ocidentais o que sobra nos orientais – GRATIDÃO, DISCIPLINA, RESPEITO e FÉ.

Cacilda Gonçalves Velasco
Professora, Pedagoga e Psicomotricista
Presidente da  ASSOCIAÇÃO VEMSER (www.associacaovemser.org.br)
http://lattes.cnpq.br/2699937931926098