Dia dos Professores

Artigo Publicado no site Portal da Educação Física – outubro/2009


Quando somos crianças nos ensinam que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estão cheias de riquezas: ferro, ouro, diamantes, florestas e coisas semelhantes. Ensinam errado. Isso equivale a predizer que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas.

O que faz de um quadro uma obra de arte não é a tinta: são as idéias que moram na cabeça do pintor.

Por isso, sendo o Brasil, um país tão rico, somos um povo tão pobre… pobres em idéias. Não sabemos pensar. Nisso nos parecemos com os dinossauros, que tinha excesso de massa muscular e cérebros de galinha.

É com as idéias que o mundo é feito. Prova disso são os tigres asiáticos, Japão, Coréia, Formosa, que, pobres de recursos naturais, se enriquecem por ter se especializado na arte de pensar.

“O que é pensar?” O pensamento é como a águia que só alça vôo nos espaços vazios do desconhecido. Pensar é voar sobre o que não se sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isto existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.

Nas palavras de Roland Barthes. “Há um momento em que se ensina o que se sabe…” E o curioso é que esse aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar.

As gerações mais velhas ensinam às mais novas as receitas que funcionam.  Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado; aprendi com o corpo e esqueci com a cabeça. E a condição para que minhas mãos saibam bem é que a cabeça não pense sobre o que elas estão fazendo. Um pianista que, na hora da execução, pensa sobre os caminhos que seus dedos deverão seguir, tropeçará fatalmente.

Ninguém sabe como a linguagem foi ensinada e nem como ela foi aprendida. Ao falar, não sei se estou usando um substantivo, um verbo ou um adjetivo, e nem me lembro das regras da gramática. Quem, para falar, tem de se lembrar dessas coisas, não sabe falar.

Há um nível de aprendizado em que o pensamento é um estorvo. Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta, nadamos, pegamos pregos, guiamos carros: sem saber com a cabeça, porque o corpo sabe melhor – DESEJA.

A tarefa primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda.
E o saber fica memorizado de cor – etimologicamente, no coração -, à espera de que a tecla do desejo de novo o chame do seu lugar de esquecimento.

Muitas pessoas, de tanto repetirem as receitas, metamorfosearam-se de águias em tartarugas. E não são poucas as tartarugas que possuem diplomas universitários.

Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinarem o que o passado legou – e ensinarem bem – fazem os alunos se esquecerem de que o seu destino não é o passado cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um não-saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento.

PROFESSOR seja um fazedor de perguntas, estimule o pensar de seus alunos e encontrará a fórmula mágica do CONHECIMENTO.

Parabéns pelo seu dia!

 

Cacilda Gonçalves Velasco
Professora, Pedagoga e Psicomotricista
Presidente da  ASSOCIAÇÃO VEMSER (www.associacaovemser.org.br)
http://lattes.cnpq.br/2699937931926098