Artigo Publicado no site Portal da Educação Física – Setembro/2009
Em homenagem a esse profissional que abraçou a mais apaixonante das tarefas… “fazer o corpo ter educação e prazer”, quero apresentar uma visão psicomotora dessa profissão.
Numa sociedade onde o culto ao corpo é a “bola da vez” precisamos repensar o que é educação.
Hoje nossas escolas estão especializadas em nos dar respostas. Mas não basta termos respostas, é necessário nos ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme, mas não nos faz “pensadores”.
O primeiro momento da educação é esse saber. Roland Barthes diz: “Há um momento em que se ensina o que se sabe…” o curioso é que esse aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar.
Os avós ensinaram os nossos pais e estes a nós as receitas que funcionam. Sabemos amarrar os sapatos automaticamente, a dar o nó na gravata também automaticamente: as mãos fazem o seu trabalho com destreza, enquanto as idéias andam por outros lugares.
Rubem Alves, em seu livro “Ao mestre com carinho” escreve: Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado; aprendi com o corpo e esqueci com a cabeça. E a condição para que minhas mãos saibam bem é que a cabeça não pense sobre o que elas estão fazendo. Um pianista que, na hora da execução, pensa sobre os caminhos que seus dedos deverão seguir, tropeçará fatalmente.
Há a estória de uma centopéia que andava feliz pelo jardim, quando foi interpelada por um grilo: “Dona Centopéia, sempre tive curiosidade sobre uma coisa: quando a senhora anda, qual, entre as suas cem pernas, é que a senhora movimenta primeiro?” “Curioso”, ela respondeu. “ Sempre andei, mas nunca me propus esta questão. Da próxima vez, prestarei atenção.” Termina a estória dizendo que a centopéia nunca mais conseguiu andar.
O mesmo acontece com nossa linguagem. Ela nos foi ensinada e nem sabemos como ela foi aprendida. Nesse sentido o ensino foi tão eficiente que não preciso pensar para falar. Ao falar, não sei se estou usando um substantivo, um verbo ou um adjetivo, e nem me lembro das regras da gramática. Quem, para falar, tem de se lembrar dessas coisas, não fala.
Há um nível de aprendizado em que o pensamento é um estorvo. Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta, nadamos, pegamos pregos, guiamos carros: sem saber com a cabeça, porque o corpo sabe melhor. É um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo. E isso me poupa do trabalho de pensar o já sabido.
No ensino da Educação Física, um pouco desse Ensinar inconsciente se estabelece quando nossos docentes esquecem de tornar seus alunos críticos. Isto é: suscitar neles o espírito investigativo e os fazer entender que um corpo perfeito só existe no imaginário popular.
Todos somos passíveis de incapacidades, dificuldades e imperfeições. A busca na “educação do física” é para a saúde e não para a performance. Nisso a psicomotricidade é especialista… a realização de um pensamento através de um ato motor coeso, econômico e harmonioso, exigindo para isso uma afetividade equilibrada.
Neste que é seu dia, EDUCADOR FÍSICO, capriche na busca da saúde educando corpos para o prazer de viver, plenamente.